Pensite Aguda: um desabafo

Igor Klayn
4 min readNov 27, 2023

Meu nome é Igor Klayn, e eu sou amaldiçoado.

Tem uma coisa que eu tenho que carregar desde sempre. Desde que tenho idade suficiente para ter memórias e desde que me reconheci como gente. Eu não sei se é só comigo, se é natural, e honestamente pouco importa. É real pra mim e já faz tempo que eu sei disso, por mais que eu finja que não.

Eu levo comigo desde sempre a má aventurança de pensar demais. Muito. O tempo todo. Sobre tudo. Eu sou e sempre fui extremamente auto-consciente. É algo que eu simplesmente não sei desligar.

Quando estou em multidões, eu só consigo pensar se estou agindo de forma natural ou não. Se devo ou não interagir e de que forma. Se vou ou não responder de forma adequada e quais cenários são mais e menos prováveis de acontecer. Eu penso em tudo, de forma que estou sempre ocupado pensando e nunca fazendo parte da multidão.

Quando conheço pessoas novas eu avalio milimetricamente o meu próprio comportamento e minhas sensações. A não ser que eu não esteja consciente do fato de que estou conhecendo gente nova. Nesse caso eu consigo agir de forma bem normal. Na verdade, até de forma encantadora eu diria. De fato, eu já fui chamado de tímido na provável exata mesma frequência com que fui chamado de carismático… Eu não sei se muitas pessoas no mundo podem afirmar isso, mas eu tenho a impressão que não. Eu me sinto como se eu tivesse sido pré-setado diferente.

Eu também tenho a constante sensação de estar sendo observado. Não é como se alguém enxergasse tudo o que eu faço… É mais como se alguém pudesse estar enxergando tudo o que eu faço e, por isso, eu constantemente revejo meus atos como que para garantir que eles fazem sentido. Eventualmente também falo sozinho e em voz alta para deixar claro para mim e para o ser senciente que observa meus atos do além a lógica por traz das minhas ações naquele momento. Eu não sei como isso faz sentido, mas de alguma forma parece fazer.

Falar sozinho é algo que faço com muita frequência de fato. É quase como se os meus pensamentos na minha cabeça fizessem tanto barulho que eu não conseguisse ouvir todos ao mesmo tempo. Então falar passa a ser uma forma de escolher um pensamento só e focar nele, desdobrando sua linha de raciocínio até o final enquanto ignoro os outros pensamentos que naturalmente vão surgindo, como ramificações e variações daquele. Escrever tem o mesmo efeito para mim, só que de forma ainda mais eficiente. Acho que é por isso que eu insisto nesse hábito.

Eu passo a maior parte do meu tempo livre (e também grande parte do meu tempo pretensamente produtivo) pensando a cerca da existência. Eu me pergunto com frequência se Deus existe e qual a forma certa de se viver. Eu nunca chego a nenhuma conclusão e mudo de opinião sobre estes assuntos como quem muda de corte de cabelo: de tempos em tempos. Em um mesmo ano eu posso ser budista, cristão, agnóstico ou ateu. A bem da verdade, posso ser alguns desses ao mesmo tempo.

Não existe um dia sequer da minha vida em que eu não tenha me perguntado se está tudo bem comigo. Ou, pelo menos, não consigo me lembrar de um. O mais impressionante pra mim é o quanto essas divagações parecem ser improdutivas e infrutíferas. Eu raramente chego a grandes conclusões ou tomo grandes decisões de vida. Raramente mudo de rumo de forma significativa baseado em alguma constatação advinda das minhas constantes e ininterruptas reflexões. De fato, eu sinceramente acredito que 90% delas não servem para nada. São só um gargalo. Um gasto absurdo de concentração. Quase como se eu tivesse um cérebro transbordante de energia e que precisasse estar correndo o tempo todo para gasta-la, do contrário seu coração bateria tão forte que este poderia infartar.

Eu sou um grande teórico. Gosto de pensar nas coisas a fundo e entender suas bases e fundamentações. Acredito que, no fundo, todas as coisas são a mesma coisa… Ou pelo menos um conjunto de 3 ou 4 coisas fundamentais. Padrões que só se repetem indefinidamente, mudando de cores, tons, roupas e rostos, mas sempre com a mesma espinha dorsal. Eu já tive a esperança de entende-los e codifica-los, mas hoje eu desisti dessa ideia. A impressão que tenho é que, se o mundo é mesmo assim, seria preciso uma mente muito mais capaz do que a minha para de fato decodifica-lo e, mesmo que o fizesse, duvido que saberia compartilhar o que aprendi com alguém de forma minimamente didática. Sinto que poderia passar 100% do tempo que me resta de vida tentando e não chegaria a nenhuma conclusão satisfatória. Mais uma vez, é só outra divagação infrutífera e desnecessária.

Até mesmo agora não consigo fugir da maldição. Estas linhas que escrevo não são uma catarse, uma confissão, tampouco antecedem qualquer conclusão. É só mais uma dessas minhas divagações irremediáveis. Como um cachorro que corre atrás do próprio rabo ou uma cobra comendo a própria cauda. As vezes eu recobro a consciência e consigo parar o ciclo. As vezes passo dias correndo atrás do próprio rabo.

Eu me sinto legitimamente incapaz de controlar meu próprio fluxo de pensamento. Nos dias bons, é algo levemente frustrante. Nos ruins, é desesperador.

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Igor Klayn
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Written by Igor Klayn

Deve haver um jeito certo de se viver. Pretendo descobrir qual é

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